Carnaval no Jalapão

Quem me conhece sabe o quanto eu adoro samba e Carnaval. Carioquíssima, nascida e criada nessa cidade, não consigo ficar parada ao som de uma bateria de escola de samba. Mas o meu Carnaval deste ano foi bastante diferente.

A pouco menos de um mês para o Carnaval, o Eliezer fechou um pacote com uns amigos e me convidou para aproveitar o feriado e conhecer o Jalapão, em Tocantins. Adoro montanha, adoro acampar e caminhar, mas costumo dizer que tenho 361 dias para fazer isso no ano, pois os quatro de Carnaval são sagrados. Mas, o roteiro e a companhia pareciam valer a pena (e valeram)… Aproveitei o quanto pude as duas semanas anteriores, de pré-Carnaval, que teve início com o bloco Só o Cume Interessa, no dia 26 de fevereiro e me preparei para o Jalapão.

A proposta de “aventura” vinda da agência de viagem, não me surpreendia muito. Mas fazer uma expedição a bordo de um 4×4 era novo para mim. As estradas são uma buraqueira só e não há sinalização indicando distâncias e localização dos atrativos. Há quem diga que isso é proposital, para favorecer as empresas de turismo locais. Talvez seja, mas fazer essa expedição em caminhonetes e jeeps 4×4 dá um toque a mais de “off road”. Tudo bem que as primeiras investidas em buracos e lamas são maneiríssimas, no primeiro dia… mas no quarto dia você já deseja um veículo mais confortável. Para quem está na direção a experiência deve ser bem melhor!

A expedição foi realizada em quatro dias. No primeiro, o trajeto de Palmas ao Jalapão consumiu muito tempo. O dia amanheceu bastante nublado e a chuva que prometia, realmente apareceu. Conhecemos o Rio do Sono, de dentro de um bar. Com um tempinho para visitação, trilhas e fotos, o grupo achou melhor ficar no bar mesmo, tomando umas cervas e provando um peixinho frito.

De lá, partimos para o almoço na casa de um local onde um delicioso peixe nos aguardava. A próxima parada seria a Pedra Vermelha, ainda uma incógnita devido ao mal tempo. Mas a chuva cessou e a viagem seguiu. Depois de um trepa-pedra bastante molhado (mas bem aparado com corda fixa para dar uma segurança), chegamos a um cânion. Embora o tempo estivesse ainda bastante nublado, deu para ver a beleza do local (pena não estar com um belo dia de sol). O que nos deslumbra no Jalapão é que você vê o horizonte a quilômetros e quilômetros de distância e, num lugar ou outro, um morro. Estamos tão acostumados a olhar montanha para tudo quanto é lado no Rio, que isso ainda nos surpreende.

Como o grupo atrasou bastante a saída de Palmas, os horários da programação ficaram meio furados.. Quando chegamos ao último atrativo do dia, a noite já tinha caído. Lá tivemos duas experiências únicas: 1) entrar num fervedouro; 2) entrar nele, à noite, em meio a vegetação fechada, entre brejos e riachos, sem saber se havia algum bicho. Iluminados apenas por lanternas, finalmente “mergulhamos” para a nova experiência. Ou tentamos.

No fervedouro você não consegue afundar. Por mais que se tente. A areia encobre até a um pouco acima do joelho, não mais que isso. O fenômeno é explicado pelo fato de o lago estar acima de um lençol freático que, ao lançar a água para a superfície, forma bolha de ar na areia impedindo que o banhista afunde. A temperatura tinha caído um pouquinho com a noite, mas a da água estava uma delícia e, por estarmos protegidos pela mata, não havia aquele ventinho frio para nos surpreender ao sair da água quente.

A noite chegou agradável e a presença das estrelas nos dava a esperança de um dia bastante ensolarado para a manhã seguinte. E foi justamente assim.

Segundo dia

Às 7h30 já estávamos de mochilas prontas e a bordo das caminhonetes. Com um grupo de 21 pessoas, a estratégia da Norte Tur foi dividir os carros entre os principais atrativos da região. Boa estratégia, por sinal.

Meu grupo foi conhecer mais um fervedouro. Localizado na área do Parque do Jalapão, as empresas vem fazendo um bom trabalho de conscientização e manutenção. A entrada ao fervedouro é limitada a seis pessoas por vez. Meu grupo tinha sete e deu para revesarmos e curtir o suficiente, não aproveitando mais porque em seguida chegou um grupo de ciclistas e tivemos que ceder a vez.

Visitamos a região de Mumbuca, um vilarejo que vive do artesanato do Capim Dourado. A pobreza misturada à alegria de viver nos dá um banho de vida. Dona Santinha, a matriarca, nos recebe com demasiado carinho. A criançada (lindas, por sinal) nos prestigiaram com cantorias, tendo o Capim Dourado como tema.

Sacolas com alguns presentinhos para a família e a viagem seguiu rumo à Cachoeira da Velha. Assim como o meu grupo se deu bem no primeiro passeio, o grupo que conheceu esta cachoeira nas primeiras horas do dia, também foi felizardo. Quando chegamos, o quadro não era dos melhores. O local estava tomado por turistas e locais, com direito a som e churrasco aos arredores. Mas deu para curtir, ainda assim. A água estava com uma temperatura super agradável e a hidromassagem, então, nem se fala. Dava para sentar debaixo da queda e deixar a natureza fazer uma bela massagem nas costas. Uma delícia!

Depois do almoço partimos para as Dunas (com paradas para conhecer e fotografar, ao longe, alguns atrativos da região, como a pedra da Catedral e a Serra do Espírito Santo, que visitaríamos no dia seguinte). Formada por areias vindas das montanhas próximas, as Dunas estão a cada ano encobrindo mais as áreas da região.

Vislumbrar o pôr-do-sol naquela paisagem foi algo mágico. Difícil descrever. A sensação não é única. As areias foram tomando um tom mais avermelhado a medida que ele se despedia de nós. Já sem sua luz, um último mergulho nas águas mornas do lago nos fez refrescar e nos preparar para mais uma noite no Jalapão…. uma noite curta, diga-se de passagem.

Terceiro Dia

A proposta era levantar às 3h30 da matina para pegar a estrada para a Serra do Espírito Santo, de onde veríamos o nascer do Sol. Esse foi o único momento da viagem onde fizemos uma boa caminhada. A paisagem realmente era deslumbrante. “Ok… o nascer do Sol na Serra dos Órgãos ainda continua para mim um dos mais lindos que já presenciei, mas tudo “agregava valor” ao Jalapão – frase muito usada em toda a viagem!”

Ainda na Serra do Espírito Santo, enquanto caminhávamos para o Mirante, o tempo foi mudando. Nuvens nos encobriram e uma fina chuva fez questão de nos recepcionar.  Esperamos alguns minutos no local, com a esperança de que a bufa partisse, mas quem partimos fomos nós. A vista do mirante ficou para uma outra oportunidade.

De volta a Mateiros, após o café da manhã, conhecemos o afluente da Cachoeira da Velha, local impróprio para banho, e a praia do Rio Novo, onde fizemos um picnic…

Com uma alimentação meio indebilitada nos últimos dias, voltamos para a pousada para degustar um rodízio de pizzas. Eu até tentei ver um pouco do desfile das escolas de samba nesse momento, mas prosear estava mais interessante…

Quarto dia

O último dia veio com muitas surpresas. O primeiro atrativo era a Pedra Furada, um dos cartões postais da região. O caminho foi alterado pelo menos duas vezes, devido a interdições na estrada. E mais uma para salvar uma caminhonete que atolou. Extravios a parte, chegamos finalmente à Pedra. Perguntei ao guia se ele sabia da existência de vias de escaladas no Jalapão, já que, até o momento, o que eu tinha visto era uma formação muito arenosa. Ele desconhecia e deu a mesma explicação.

Na programação, o passo seguinte seria almoçar, passar na pousada para pegar as malas e seguir para Palmas, com uma última parada para conhecer a cachoeira Sussuaruna. Houve algumas intervenções, como o socorro de uma menina que fraturou o osso do punho, ao escorregar na cachoeira, mas a viagem seguiu seu rumo.

No último atrativo, nos deparamos com uma cachoeira dentro de um cânion, onde antes corria um rio que teve seu curso alterado por um fazendeiro cuja construção mudou o rumo da água. Mas o lugar trazia seu encantamento. Filetes de água saíam entre as pedras e, após conhecer sua história, ficava sempre a incógnita: e se as águas reencontrarem seu curso? Seremos levados daqui como uma cena de filme!

Bom o Jalapão é isso… é Bruto, como diz o slogan da Norte Tur. É bruto por não ter regalias. O turismo é bem rústico, sem acomodações VIP, com refeições feitas na casa de locais, com a experiência de sua gastronomia.

Para mim, a experiência foi muito válida. Poder conhecer mais um pedacinho desse Brasil, sua cultura, sua paisagem. Conhecer um pouquinho desse rico universo de variedades que é nossa nação.

Adorei o Jalapão… adorei as novas amizades e a companhia.

PS: De volta ao Rio, curti a despedida do Carnaval com o Monobloco, na Rio Branco.

Carla Vieira

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