Na Italianos

A Italianos era uma via cheia de mitos para mim. Eu queria fazê-la há muito tempo, pois uma vez entrevistei um amigo e ele disse que fazer a Italianos era como dançar balé, tamanha a suavidade que ela exige para ser cumprida. Depois de uma explicação dessas, comecei a implorar para os amigos e vários prometeram que me levariam.

No entanto, quem cumpriu foi justamente quem não prometeu, rsrsrs. Fui com o Play, com quem escalei bastante em 2009 e que foi um incentivo para eu começar a guiar – ele adora deixar barriga quando estamos escalando e com ele percebi que já podia subir sem “depender” tanto, psicologicamente, da corda.

Todo mundo diz que o Play é meio louco, que gosta de se meter em roubadas. Eu, particularmente, me sinto super-bem escalando com ele, mas  tive a certeza de que, ao me levar, ele gosta de uma roubada mesmo. Não tinha a menor noção de como a Italianos era. Foi bem diferente de tudo que fiz até então. Via exigente em diversos sentidos, gostosa em muitos trechos, em outros nem tanto.

Para mim a via começou ainda na Cláudio Coutinho, pois eu ficava correndo para acompanhar a passada larga do Play e fiz a trilha até a base em – pasmem – 15 minutos. Para mim, um recorde absoluto que não sei se pretendo bater. Iniciamos a via rapidamente. Fiquei na ansiedade de perder o contato visual com o guia, algo que me deixa desconfortável demais.  Mas não foi tão ruim. Tive uma queda em um lance bobo na terceira enfiada, onde eu estava insegura e não queria roubar. A corda estava com uma barriguinha, escorreguei  pedra abaixo. Só de raiva voltei e fiz o lance limpo, do mesmo modo que pensei da vez anterior, mas metendo o pé com vontade contra a rocha e sentido a aderência da sapatilha. Eu o d e i o cair. Mas as quedas são interessantes para percebermos onde erramos e lidarmos com nossa insegurança na pedra. Depois as pernas tremiam tanto – nunca olhe pra baixo depois de um escorregão – que eu gritava a cada lance. Achei que nunca mais pararia de tremer, mas cheguei em um lance de terceiro e me recompus.

Enfim, terminamos a Italianos e entramos na Troglodita, via igualmente gostosa e tranquila. No computo geral, não fiz  via do modo que gosto – gosto de escalar tranquila e sentindo o sabor e o cheiro da montanha. Mas agora, passado o mito da “Via dos Italianos”, quero me preparar melhor e repeti-la com menos ansiedade e mais curtição.

Elizete Ignácio

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