Pai, eu quero fazer a Travessia!!

 

“Pai, eu quero fazer a Travessia!!”

No início de abril comecei a escutar muito o Gabriel falar esta frase; para falar a verdade não liguei muito. Pensei: “Vai passar. Ele não tem ideia do que é uma travessia Petrô-Terê.”

Então, na semana seguinte começou novamente: “ Pai, eu quero fazer a Travessia!”

-“ Pô Gabriel! A parada é violenta. São dois dias de caminhada puxada. Não temos material para nós dois!!”

Mais alguns dias, o Gabriel começa a aparecer com umas luvas velhas, gorro, um cantil que ganhou do Padrinho quando tinha 6 anos e uma segunda pele que dei para ele quando foi para Bariloche, anos atrás e que não dava mais nele.

Pensei: “Agora não tenho saída, vou meter o terror neste moleque e se ele insistir, levo ele comigo, mesmo que seja nas costas.”

“Gabriel, a travessia é longa e vamos ter que carregar mochilas pesadas, subindo muito e parando muito pouco. A noite vai estar extremamente fria e vamos dormir mal!”

Mais uma  vez escutei: “Pai, eu quero fazer a travessia!”. Pronto, agora não me resta alternativa, a não ser levá-lo e apoiá-lo.

Sabia que a última excursão do CMB 2012 seria a travessia e no início pensei em acompanhá-los. Então, percebi que minha programação e organização seria outra com a presença do Gabriel.  Comecei a reunir mochilas cargueiras, Anoraks, meias térmicas e, entre outros ainda faltava um bota de caminhada, que o Ivan prontamente nos emprestou (valeu Ivan!).

Sexta à noite, dia 04/05, dormimos na casa da família da Dani em Petrópolis e no dia seguinte às 09h estávamos na entrada do parque, junto com a Galera do CBM.

Eu, com uma mega mochila (material para 2 pessoas) me achando o super Pai e pensando que estava tranquilo. O Gabriel, com uma velocidade de 10 perguntas por minuto e com um enorme sorriso, eufórico  e pensado que estava indo para Disney.

Comecei dar os primeiros passos e percebi que havia algo errado comigo, pois logo no início a mochila estava incomodando muito. Pensei: “Se não der, pelo menos chego no Açu e, no dia seguinte, volto com o Gabriel”.  Com a evolução da caminhada, fui me adaptando e depois do Ajax já estava no ritmo.

O Gabriel pegou caneta e papel, ficou com a parte do relatório da excursão e lá fomos nós. Chegamos no Açu quando ainda estava claro, montamos a barraca, começamos a cozinhar e acompanhamos o pessoal do CMB 2012.

No dia seguinte pensei: “ Vou meter o pé!! O moleque não está reclamando!!”. Engano meu, na descida do morro da Luva ele começou a repetir sem parar: “Pai, meu pé está doendo muito!” Eu respondi: “Que nada Gabriel, isto passa”. Lá no fundo, eu tinha um plano B, mas não sabia se daria muito certo. Mais na frente, comecei a me assustar… ele diminuiu o passo e fez cara de desespero. Pronto, agora vou passar vergonha no meio da rapaziada. “Gabrieeelllll, vamos embora! Esquece o pé, tu é macho cara!” Não funcionou!

Bom, ficamos um pouco para trás e encontramos o grupo na subida do “elevador”.  Então o plano B entrou em ação. Mudei minha bota que de fato era mais confortável (sorte que calçamos o mesmo número) e disse para ele: “Agora vamos terminar logo esta travessia e chega de reclamar do pezinho. Tu é macho cara!” / “Ai meu Deus, tomara que dê certo ).

Enfim, pelo menos até o trecho de pedras ele aguentou bem e não teve grandes problemas.

Na subida do Sino, ficamos um tempo conversando com os amigos e rindo um pouco com o Carlinhos que soltou a seguinte frase: “Gabriel, na sua idade (14 anos) é muito difícil fazer a travessia. Perguntamos então: “Carlinhos, quantos anos você tem?” Ele responde para o choque de todos, “69 anos”. Pensei: “Na sua idade é que difícil mesmo. Carlinhos,  você é uma lição para muitos que pensam que estão velhos. Na verdade as pessoas ficam velhas na cabeça quando param de sorrir, de brincar e de amar. Desejamos vida longa, muitas montanhas e demasiadas gargalhadas”.

Bom, acho que foi a primeira travessia de diferentes gerações, de novos e velhos amigos onde temos que agradecer pelo apoio, companheirismo e, sobretudo, pela grande alegria que tive em fazer a primeira travessia Petrópolis Teresópolis com meu filho.

Gabriel, agora é com você! Desejo que o montanhismo complete a sua vida como completou a minhas, que te traga muitas experiências, amigos verdadeiros, respeito pela natureza e muita alegria.

Eliel França

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